segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Prokemedeu à segunda-feira


Perdida numa rua da cidade Frankfurt vi esta estrutura que para mim representa uma fantástica obra de arte. Uma simples estante de livros acessível a todos os que a quisesse abrir. E o conceito de se poder levar um livro para ler e deixar outro para que alguém leia, o conceito da troca livre de livros fascinou-me. Para além de todos os pensamentos e sensações que aquela peça de arte urbana me proporcionou, contemplar este original suporte de livros inspirou-me para escrever este texto que partilho convosco. Espero que gostem!


Jaz agora esquecido num banco de jardim, ironicamente de regresso às origens, agasalhado num velho plástico.

Tantas histórias para contar para além da sua própria…tantas confissões enclausuradas na sua essência inanimada, destinadas a nunca serem ouvidas, a nunca serem reveladas.

Agora, bastante gasto e de rosto amarrotado, era mais rico! Muito mais rico!

Depois de tantos lugares mágicos visitados, tantas vidas acompanhado, para além dos milhares de palavras impressas, carrega agora consigo valiosas mensagens escritas à mão. Mensagens de alegria, de agradecimento, palavras sempre vindas de algum coração.

O importante é que o seu propósito nunca se perca, esquecido naquele recôndito banco de jardim!

...

O aroma a tinta, o cheiro seco a pó e papel eram a descrição miserável do verdadeiro cocktail de embriagar os sentidos que pairava naquele armazém. Chegou o momento! O momento da sua criação! O primeiro livro a sair de impressão, o mais especial para o seu autor! Não obstante a cambada de gémeos que se lhe seguem, o primeiro exemplar anuncia a chegada ansiosamente esperada da sua mensagem para o mundo. E se não para o mundo, pelo menos para o mais longe que conseguir chegar.

Mas para este autor o primogénito tinha uma missão maior que a sua vaidade e mais forte que o egoísmo com que se debatia. Para este autor, este livro apenas atingirá a plenitude da sua existência quando tiver percorrido o globo, livre das amarras das estantes tradicionais, livre do capitalismo que o sustenta a ele próprio!

Este exemplar teria um destino diferente. Viveria aventuras, levaria a sua história a tantas pessoas quantas a sua consistência permitisse. Correria o risco de perecer precocemente, acidentalmente esfarrapado, ou propositadamente desintegrado numa trituradora. Mas era um risco que o seu autor queria que ele corresse, o risco que tornaria a sua missão notável!

Envolveu-o cuidadosamente num pedaço de plástico suficientemente resistente para o efeito da impermeabilidade e separou-se dolorosamente dele na margem do rio. Ali o deixou só, com algumas palavras de despedida gravadas no seu dorso: " Disfrutem, deixem a vossa marca e partilhem-me com o mundo".


1 comentário:

  1. Não me cruzei com esta estante de livros em Frankfurt ou então a ânsia de ver monumentos históricos e nada perder não me deixaram apreciar outras coisas dignas de ateñção. Esta é uma ideia deveras interessante. O Café Guarani, no Porto, também a punha em prática há alguns anos. Não sei se ainda persiste.
    Couvinha de Bruxelas

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